Fazer uma trilha pela geleira na Islândia (trekking) foi um daqueles sonhos da vida, que tivemos a felicidade de realizar, e em grande estilo. Preparem-se para mais um post repleto de imagens fantásticas deste país que bem poderia estar, sei lá, em Saturno.
Mas por que se aventurar em uma geleira, gente? A gente vai na chuva para se molhar, não é? Se a gente vai na terra do gelo (Ice – gelo; land – terra; Iceland), é para se atirar numa geleira, não?
Tudo bem, é verão, mas o país não deve ter ganhado o nome de terra do gelo gratuitamente. E pela janelinha do avião a gente já tinha avistado que havia neve em algum lugar, pelo menos enquanto o aquecimento global não acaba com tudo.
Sobre geleiras
Para começar, vamos explicar um pouco sobre o que são as geleiras, como vivem e como se reproduzem… (risos)
Uma coisa que eu não sabia era que elas foram formadas há muitos milhares de anos atrás, resultado do acúmulo de neve no topo das montanhas da região. Imaginem que naquela época, mais gelo se formava no inverno do que derretia no verão.
Então são milhares de anos de água congelada acumulada em camadas sucessivas após cada precipitação de neve. Mas imaginem aí muito, mas muito gelo MESMO. Por causa do peso, a neve vai se compactando nas camadas mais profundas e criando blocos de gelo imensos e totalmente transparentes.
O que vemos azul é, na verdade, tão quanto o gelo que fazemos no congelador em casa. Só que com a passagem da luz solar, vemos azul! Assim como o céu que é transparente, mas vemos azul. Assim como o mar, que é transparente mas vemos azul. Legal, né?
Todo esse azul na verdade é transparente
Visitar uma geleira no verão é muito legal, porque assistimos ao vivo o seu processo de derretimento. Por causa do calor de 10 graus que faz no verão islandês (brincadeirinha, chega até 15 graus às vezes!!!), a neve do inverno anterior (ainda branquinha) vai derretendo e formando rios, cachoeiras, cavernas, lagos no meio daquele bloco branco que se vê ao longe.
E nas camadas mais profundas da geleiras também há derretimento, por causa do peso da própria geleira e por causa da atividade geológica subterrânea. Isto forma rios subterrâneos (caudalosos com correnteza e tudo!). Ou seja, geleiras estão em eterno movimento, esculpindo as rochas do entorno e traçando o seu caminho inevitável até o mar.
A geleira derrete e forma aquele rio lá atrás que vai até o mar
No inverno, quando esses rios param de se mover, dá até para visitar com segurança as cavernas de gelo esculpidas nas profundezas das geleiras. Mas como fomos no verão, perdemos essa. 🙁
Essa caverninha aí vale?
O lugar tem tanta vida que tem até plantinhas vivendo por lá!
A maior geleira da Islândia se chama Vatnajökull (Jökull significa geleira em islandês – se pronuncia Y-O-K-Ú-G, ou algo ainda pior). É a maior geleira da Europa e 3ª maior do mundo (só perde para uma que está na Antártida e outra que fica na Groelândia), ocupando cerca de 15% do território do país.
Nossa visita foi só numa partezinha da Vatnajökull. Pense em um bolo com cobertura de chocolate. A cobertura seria a geleira que vai escorrendo pelas laterais do bolo, transformando-se em rios que chegam no mar. Nossa visita foi numa lateral do bolo só, chamada Falljökull.
Esse branco é a calda escorrendo pela lateral do bolo
Teoricamente, se eu não entendi errado, embaixo das geleiras existem vulcões, que podem entrar em erupção como o Eyjafjallajökull e derreter tudo de uma hora para outra. Ou seja, a atividade geológica sempre foi uma das causas naturais para o desaparecimento das geleiras.
Só que o clima também pode influenciar muito. O aquecimento global tem feito como que elas se desmanchem tão rápido que a neve do inverno não consegue refazê-las. E isso está acontecendo no mundo todo, não só na Islândia.
Monitoramento via satélite movido a luz solar
Visitar as geleiras é ver a prova ao vivo da sua futura extinção. Durante o passeio, o guia mostrou várias marcas de onde o gelo costumava estar há 10-30 anos atrás. Inacreditável ver o quanto já se foi para sempre.
Trilha pela geleira propriamente dita
Mas enfim. Depois de dar uma valorizada pela visita a algo que pode não existir mais daqui a uns 50-100 anos, vamos explicar como funciona este tour.
Nós contratamos (pela internet e com antecedência) os serviços da Glacier Guides e pagamos todas as nossas despesas normalmente (hoje em dia tem que dizer, né? Senão todo mundo já acha que é jabá).
Escolhemos o combo de dois passeios no mesmo dia, que é a trilha pela geleira (trekking) e mais a lagoa dos Icebergs (Jökulsárlón: Jökul – geleira; Sárlón – lagoa, aprendendo islandês já, hein?), tudo num dia só, num tour que começa às 8:30h da manhã e só termina às 17h, aproximadamente.
Vale muuuuito a pena. Mas a parte da lagoa dos icebergs a gente conta em outro post, tá?
Você pode escolher contratar esse mesmo tour saindo super cedo de Reykjavik (a capital da Islândia) e voltando por volta da meia noite. A gente estava de carro próprio (na verdade uma campervan, veja o post que conta como é isso) e por isso resolvemos pegar o tour em Skaftafell.
Explico. Skaftafell é um parque nacional islandês que tem um centro de visitantes bem estruturado com uma área de camping e hotéis no arredores. Lá fica a sede do Glacier Guides e de lá partem os passeios sem traslado. Nós dormimos no camping naquela noite, depois do tour pelo sul da Islândia que contamos no último post.
Depois de todo mundo se apresentar e receber o material incluso no pacote, eles ajudam você a vestir umas coisas de segurança, além de dar capacete, martelo e uns grampos para se colocar embaixo do tênis.
Paramentado para a aventura
Nessa hora eu já abandonei um pouco das roupas que eu tinha pensado em levar comigo. Por incrível que pareça eu estava vestido somente com uma camiseta segunda-pele, um casaco corta-ventos e uma calça de trekking, sem segunda pele por baixo. O Sandro estava como uma blusa de fleece (entre a corta-ventos e a segunda pele). A temperatura estava em torno de 8-10 graus e a atividade física depois deixou todos com muito calor.
Depois de paramentados, todos embarcamos no busão até o lugar mais próximo possível da geleira onde ainda há estrada. E daí começa a trilha, primeiro numa estrada de terra negra em meio à vegetação de tundra típica do país. Ali a gente caminha com o tênis normal mesmo.
Caminhada pela tundra até a base da geleira
Depois a gente chega na base da geleira. Hora da calçar os grampos que vão nos pés e aprender a andar com aquilo na neve. O guia dá várias explicações sobre como subir e descer as ladeiras da geleira sem escorregar, como usar os grampos e porque nunca deixar o martelo no chão (ele vai inevitavelmente escorregar pela neve e adeus martelo…).
Durante a caminhada, o guia aproveita cada “atração” encontrada para explicar como se forma e a gente ao vivo como é isso da geleira ser algo tão dinâmico, diferente a cada dia. Até aquelas cinzas vulcânicas que aparentemente são feias, têm a sua razão de estar ali e a gente entende que é graças a elas também que a geleira existe.
E apesar da beleza toda do passeio, não podemos deixar de comentar sobre os perigos de estar ali. Como a geleira muda muito, hoje pode ter surgido um buraco num lugar onde ontem era “terra firme”. Então esse passeio é impossível sem um guia.
Na verdade, nem é permitido. Seria muito perigoso uma pessoa (ou até um grupo) sem supervisão profissional andar num lugar cheio de desfiladeiros, lagos de degelo, fendas que se abrem a cada dia num lugar diferente… Mas com o guia, tudo parece muito simples.
Já pensou cair dentro dessa água a 0º?
Tanto que a maior parte do nosso grupo era formada de pessoas de meia idade. Apesar de o caminho ser uma longa subida, a jornada é feita com toda a calma do mundo, sem atropelos, não sendo necessário preparo físico prévio.
Ninguém levou um escorregão sequer
O incrível é pensar como a gente sobe alto! A caminhada toda dura cerca de 3 horas só sobre o gelo (2 horas e subida e uma de descida) e passa muito rápido. A empresa não fornece almoço, então é importante levar um lanchinho para não passar fome.
Já a água não precisa trazer, só mesmo uma garrafinha. A água do derretimento das geleiras é a mais pura que existe. Mas a gente aprende até a beber sem garrafa em caso de necessidade. kkkkkkk
Bebendo água sem garrafinha e sem congelar, nem molhar as mãos
Mas e se eu não tiver esse tempo todo ou não estiver disposto a passar tanto tempo fazendo essa trilha pela geleira? Então você posse fazer o mini trekking, que não vai tão alto e tem somente 1h na neve. 😉
O mini trekking só vai até essa parte “lisa” e volta
Acho que é isso, pessoal. A gente deu muita sorte com o clima. No início do dia parecia que íamos pegar chuva o dia inteiro. Mas no final abriu até sol. Nas fotos parece que ele durou o passeio inteiro, mas na verdade foi só uma parte (é que as fotos mais lindas foram com céu azul, né?).
No fim da trilha pela geleira a gente volta para o busão e para Skaftafell antes seguir viagem para o próximo destino dessa jornada: Jökulsárlón, a lagoa dos icebergs.
Serviço
Se é para ir tão longe do Brasil e pagar tão caro por tudo (a moeda da Islândia não é fácil não gente, super valorizada), então vamos afundar de uma vez o pé da na jaca e encarar passeio mais completo, né? Inclui a trilha pela geleira e mais Jökulsárlón.
Glacier Guides – Grand Slam
http://www.glacierguides.is/
Duração: 8h
Preço: ISK 21.190 ( EUR 151)
Dificuldade: 3/5
Saídas: 8:30h de Skaftafell
Não teríamos feito um passeio tão legal se não fosse a contribuição de outros blogueiros que foram antes da gente e nos contaram. Eis as nossas fontes:
Islândia Brasil
1000 dias por toda a América
London, sô!
Ahn! Só mais uma coisa!
E se você não quer dormir em camping e está procurando hospedagem na Islândia, não deixe de dar uma olhadinha nos nossos parceiros, o site Booking.com. Se fechar com eles depois de fazer a busca abaixo, a gente ganha uma comissão e você não paga nenhum centavo a mais por isso. Valeu!
Wow…..parece muito bom fazer esse passeio. fiquei com muita vontade de conhecer esse país e realizar essa caminhada.
Enquanto isso não acontece, vou viajando na viagem de vocês. Super!!!